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Imagine o protagonista padrão de filmes de ação. Você conhece o tipo — mesmo que nunca tenha pisando em um cinema, tenho certeza que os trailers se esgueirando pela televisão, fotos infestando os sites e cartazes de espreita pela cidade fizeram questão de te apresentar a essa categoria humana —  branquelos de uns trinta e poucos anos, que parecem ter trocado todo senso de humor por músculos e armas.

Conseguiu visualizar a figura? Pronto. Eu sou tudo, menos isso.

— Corre gordinha, corre! — gritou Ariel, segurando a porta automática enquanto apontava ameaçadoramente uma varinha de condão para os dois cachorros na minha cola.

— Vá se lascar! — gritei, vendendo a distância e a dor em um esbarrão desengonçado no elevador. — Me da isso! — continuei, puxando a varinha da mão dela e a jogando para os cães — Fido, pega!

Para minha surpresa, os bichos pissaram em falso quando viram o objeto de plástico girando pelo ar. Obviamente, o brinquedinho apenas caiu no chão, e as portas se fecharam. Nada mal para quem só queria irrita a namorada hiponga do irmão.

— Essa merda… não… tá certa — Ofeguei, enquanto tentava convencer o meu coração que o pior havia passado e ele podia parar de tentar sair pela minha boca. — Achei que tínhamos inventado essa coisa de civilização… justamente para não ter que sair correndo de bichos.

— Você está louca?! — disse ela, com aquele sotaque que eu não conseguia ligar a nenhum povo da Terra — Aquela era minha varinha!

Algo primordial em mim queria dar um soco na cara daquela loirinha, mas eu não podia fazer isso. Não com o Tobias desaparecido.

— Você tem mais dez dessas debaixo da jaqueta — suspirei por fim.

— Oito — disse ela, cruzando os braços — Mas devia ser nove. Nove é um núme…

— Shhh… — respondi, levando o indicador aos lábios enquanto o elevador parava de descer. — Escuta aqui, sininho, já tem coisa demais de signos no meu perfil para eu ter aturar numerologia também. Você nem sabe contar! Só tinha dois cachorros, e não…

Antes que eu terminasse, uma voz masculina suave me interrompeu.

— Na verdade, senhoras, é apenas um — eu, o cérbero — disse um homem musculoso de olhos amarelos que tinha o aspecto de quem estava tentando desesperadamente ser estiloso e evocar a aparência de um cachorro de forma estilosa, mas não estava conseguindo nem um nem outro.

— Então… Quer dizer que esse tempo todo essas séries sobrenaturais de segunda estavam certas? Todos os monstros são só humanos com lentes de contato?