Krohli as adorava. Como podiam ser tão belas naquele lugar? Parecia que eram feitas para ele, regozijando-se com cada cor, cada perfume. Mas ele não podia ficar lá por tanto tempo. O dragãozinho precisava se lembrar de sua irmã, Nisha, que estava aprisionada. Ao menos, ele torcia para que ainda estivesse lá, viva.

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O pequeno réptil voador não sabia o que fazer para resgatar sua irmã, na verdade. Por isso, admirar as flores era um atrativo melhor do que se condenar por não ter o que fazer. Ele não tinha mesmo o que fazer, não é verdade?

Nisha sempre foi a mais poderosa dos dois. Se alguém entre eles faria o papel de herói, ou melhor dizendo, heroína, seguramente seria ela. Ok, no episódio mais trágico da vida deles, foi Krohli quem fez tal papel. Mas… foi sorte. Muita sorte. O desespero. Foi isso que o fez salvar sua irmã de ser trucidada pelos pequenos monstros que acabaram com a vida de seus pais.

E agora, talvez então o dragãozinho precisasse recorrer ao desespero novamente em defesa de sua irmã mais nova. Ele não queria ficar sozinho no mundo. Não, sem dúvida não. E ele amava Nisha. Não só amava, mas a admirava. Admirava por sua bravura, sua coragem, sua força, seu talento em cuspir fogo e voar com destreza. Já os movimentos dele eram mais desajeitados, atrapalhados. Até na hora de cuspir fogo, uma habilidade que se costuma entender como inata aos dragões… ele falhava frequentemente. Ao invés de fogo, apenas tosse. Tosse, tosse, tosse. Tão grande frustração…

Aaaah! Sem reparar, em seu treino cuspidor de fogo, estava Krohli acabando por estragar algumas das belas flores que tanto admirava no campo em que se encontrava. Ok, fogo de verdade não estava saindo, mas só o vento gerado pela tosse do dragãozinho já não era lá muito saudável para as frágeis plantinhas.

Krohli sempre se distraía. Precisava se concentrar. Como dar um jeito de resgatar sua irmãzinha? Apesar de que… se ela estava presa, como poderia ele resgatá-la? Essa era uma pergunta bem realista. Ela era mais forte e habilidosa que ele. Ela não tinha conseguido se livrar dos monstros. Logo, muito menos ele conseguiria. Mas precisava tentar! Afinal, era a sua irmã. E ele era o irmão mais velho, apesar de que isso não significava muita coisa na prática, apenas um senso de dever que lhe sobrecarregava os ombros ainda mais.

*

Lá estava ela. Aprisionada numa cela de metal, no meio do acampamento dos monstros que a capturaram. Eles se divertiam, bebendo, conversando, rindo. Uns treinavam com suas espadas, outros jogavam dados ou dardos. E Nisha apenas olhava e fungava, impaciente, ameaçada pelos homens armados. Krohli observava tudo do alto de um penhasco, sem ser visto. Com muito medo de dar um passo em falso e botar tudo a perder. Do jeito que era desajeitado, seria muito fácil que fizesse algum barulho, algum dos pequenos monstros ouvisse, então o avistasse e lhe disparasse alguma de suas setas perigosas.

Krohli tinha medo. Mas não se esqueceu do que lhe dava alegria até há pouco tempo: flores. Belas, coloridas, perfumadas. Tinha trazido algumas consigo, para lhe dar sorte. Oras, precisava se apegar a alguma coisa feliz, nessa situação tão dramática, afinal. Trazia assim, algumas em sua boca.

Eis que começa o primeiro erro de Krohli. Ele deixa cair uma das flores que trazia como amuleto. Uma não, duas. E elas começam a descer o penhasco, devagarzinho, até lá embaixo, onde os monstros de pele clara guardavam sua irmã. O dragãozinho começa a ficar desesperado! Mas não tinha o que fazer, tinha? A não ser que ele tentasse voar até as flores, a tempo de pegá-las antes de chegarem aos seus inimigos.

Lá se foi ele então! No entanto, sua habilidade no voo e destreza no geral realmente não o ajudavam muito. E até de fato conseguiu pegar as duas flores que estavam caindo… Mas se esqueceu que outra meia dúzia delas ainda estavam em sua boca! E agora, lá se vão essas outras lá pra baixo…

De modo que Krohli não tinha coragem em se arriscar mais, descendo para tentar pegá-las de novo. Voltou para o alto do penhasco, e ficou apenas observando. E viu que, quando a meia dúzia florida chegava ao nível do chão… Um dos guardas espirrou. Espirrou de novo! E, em seguida, outro guarda próximo ao primeiro também espirrou! De modo que, logo, estava toda uma tropa espirrando. Que sorte! Não é que os monstros dessa tal de raça humana deviam ser alérgicos às lindas flores de que Krohli tanto gostava, no fim das contas?

Os dragões não eram mesmo afetados, percebeu o pequeno réptil; afinal, apesar de lá embaixo estar uma espirradeira só, tanto ele como Nisha, ainda aprisionada, estavam tranquilos, tranquilos. A irmã não quis perder mais tempo. Percebendo que os seus captores estavam atacados por aquela estranha espirração, lá foi ela tacar fogo neles! Estavam, pois, vulneráveis, sem prontidão suficiente para se protegerem e lutarem. Ainda assim… Eram muitos, e mesmo espirrando, passaram a atacá-la com lanças e flechas!

Lá do alto, Krohli, vendo tão terrível cena, com sua irmã sendo agora brutalmente atacada, e por culpa dele, entrou em desespero e lá se foi ele lá pra baixo, voando em direção a ela. Na verdade, não tinha plano algum, apenas buscou se aproximar e tentar fazer alguma coisa! E de fato fez. Seu voo desajeitado, partindo lá do alto, atingiu no chão a jaula que mantinha sua irmã cativa de um jeito tão impactante e mirabolante que – muito dolorosamente ao pequeno Krohli, diga-se de passagem – acabou por destrancar Nisha de sua prisão, restando agora apenas barras tortas e trincos quebrados!

Estando Nisha livre, os homens não tinham mais coragem para, atacados de sua alergia espirratória floral, continuar a combatê-la. Acabaram por fugir da enraivecida criatura. E agora era a vez dela, no entanto, de socorrer o irmão mais velho, bastante atordoado pela queda fulminante que a libertou do cativeiro…