Catarina ficava horas olhando para o céu, acreditava fielmente que as nuvens eram únicas. Naquele tempo, a sua preocupação era poder sair da cidade pequena, arranjar um casamento e ter uma filha. Não via outra possibilidade de viver a não ser dessa forma.

Em uma manhã, longe em seus pensamentos, recebeu a notícia de que a família iria se mudar, que logo teriam que partir. Não conseguia compreender o que estava acontecendo, ninguém falava nada. Levariam somente o que pudessem carregar em caixotes. Ela ficou um pouco triste, queria muito levar o móvel de quarto, guardava todas a suas lembranças ali. O pai passou a mão em sua testa, raramente ele fazia esse gesto, olhou apressado pela janela e disse que não poderiam esperar o dia inteiro.

Foi assim que Catarina viu a sua tranquilidade mudar de repente. Adormecera na viagem. Quando acordou, o céu não era mais o mesmo. Estava muito azul, mas era outro.

O movimento era intenso na nova casa. Corriam sempre de um lado para o outro. Quase não via o pai. A mãe apresentava expressões novas, conversava muito com a tia, que morava com eles. Sentou-se ao lado de Catarina e iniciou uma conversa estranha, que já estava na hora de encontrar alguém para casar. Ela não conhecia ninguém ainda. A mãe disse que não era problema. Eles convidaram uns conhecidos da família que já moravam ali, havia um rapaz muito educado, ela, com certeza, haveria de apreciar tal encontro.

Daquele dia para o matrimônio foi uma virada de página. Estava tudo pronto, ela moraria bem próximo da casa dos pais. A tia ficou com a missão de ensinar o que fosse preciso para a sobrinha. Tudo perfeito. A lágrima corria na face da mãe.

Pouco tempo depois, a casa deixava a tensão de lado e preparava-se para receber uma nova vida. Catarina engravidara e só pensava na hora do nascimento do bebê.

Gritaria, correria, barulho nas ruas próximas, a parteira desesperada, o quarto desequilibrado. Parto difícil, uma menina linda!

Foi assim que a avó de Catarina começou a contar-lhe como aprendera a escutar as nuvens, depois do nascimento de sua filha. Meses depois do parto, a visão começou a desaparecer, ninguém conseguia explicar o que estava acontecendo. A única preocupação de Catarina, a avó, era com as nuvens. Seu mundo não era nada sem as nuvens. Era a única certeza que tinha: as nuvens não mudariam nunca!